AGIOTAGEM INSTITUCIONALIZADA

O espírito do falecido vice-presidente de Lula, o empresário José Alencar, baixou na Esplanada dos Ministérios. Numa cruzada contra a “agiotagem institucionalizada”, a presidente da República voltou a defender a redução do “spread”, diferença entre o que os bancos pagam para obter recursos e o valor cobrado pelos empréstimos.
Saudando o 1º de maio, Dia do Trabalho, Dilma Roussef cobrou um corte maior nas taxas de juros por parte dos bancos privados e classificou como "inadmissível" que o Brasil, com "um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo".
Reforçou dizendo que “o setor financeiro, portanto, não tem como explicar esta lógica perversa aos brasileiros. A Selic baixa, a inflação permanece estável, mas os juros do cheque especial, das prestações ou do cartão de crédito não diminuem". Citou o exemplo dos bancos oficiais que já deram uma sinalização, mesmo que simbólica – afirmação minha! - na direção deste esforço de baratear o crédito.
Mas deve ter lembrado a presidente também que quando chamou os banqueiros para conversar no mês de abril, os mesmos, representados pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), levaram ao Ministério da Fazenda duas dezenas de propostas, segundo eles, indispensáveis para reduzir o "spread".
Entre elas, as reduções do depósito compulsório (parte dos depósitos à vista e a prazo que têm de ser mantidos no BC) e da tributação (IOF para operações de crédito e CSLL sobre o lucro das instituições financeiras), além da regulamentação do Cadastro Positivo e do aumento das garantias concedidas - que poderiam ser, até mesmo, as reservas dos planos de previdência complementar.
Enquanto ocorre esta “briga de cachorro grande” o pobre cidadão segue olhando o extrato de sua conta e vendo tarifas, mesmo no principal banco oficial, de 174,82% ao ano de custo efetivo oficial se o vivente utilizar o cheque especial. Se isto é baixar juros, o que sobra para os clientes dos demais bancos?
Por estas e outras que os 25 bancos nacionais de capital aberto tiveram um lucro de R$ 49,4 bilhões em 2011, um resultado 14,48% maior do que em 2010. Como já dizia o ex-presidente: “Como nunca antes neste país...” os bancos lucraram e seguem lucrando tanto.
Na outra ponta, a corda começa a apertar. O Brasil classe média se endividou e começa a não poder pagar suas contas.
O total de endividados na capital paulista é o maior desde março de 2011, revela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de SP (FecomercioSP).
52,2% dos paulistanos estavam endividados em março, o que equivale a 1,87 milhão de famílias, 9,4% a mais que no mês anterior. A Fecomércio acrescenta que o aumento no endividamento se deve, na sua maioria, às despesas com matrícula e material escolar, Imposto Territorial e Predial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), incluindo nesta conta os gastos crescentes com turismo, viagens, hotéis e aluguel de carro.
A pesquisa dá conta de um outro número, aí sim preocupante: o aumento da inadimplência. O total de famílias com conta em atraso, que eram de 12,1% em fevereiro, subiu para 18,5% em março.
Apesar de termos deixado a liderança nos rankings mundiais de juros reais, posição ora ocupada pela Rússia, e de juros nominais (ponteada pela Venezuela), seguimos rondando estas posições, num claro e evidente cenário que atordoa não só governantes, mas em especial o correntista, o cliente, o cidadão brasileiro, enfim. (Vilson Antonio Romero)

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