A MÁSCARA, O PROTESTO E O VÂNDALO
"Guy Fawkes viveu pouco mais de 35 anos. Soldado inglês
católico nascido na Londres de 1570, foi executado na forca por traição e
tentativa de assassinato no inverno de 1606. Na Conspiração da Pólvora que
pretendia matar o rei protestante Jaime I, ele era o guardião dos barris de
pólvora que iriam explodir o Parlamento do Reino Unido, plano mal-sucedido com
a descoberta e desarme do levante liderado por Robert Catesby.
A imagem de Fawkes se tornou um símbolo de rebelião e de
anarquia, reforçada numa série de romances gráficos escrita por Alan Moore,
publicada originariamente em 1982, e relançada pela DC Comics em 1988,
denominada “V de Vingança” no Brasil.
Pois a máscara estilizada de Fawkes, usada pela personagem
anarquista alcunhado de V na “graphic novel”, virou ícone do grupo “Anonymous”
que se une através das redes sociais desde 2003, apoiando diversos movimentos e
causas como Occupy Wall Street, a Primavera Árabe e defendendo Julian Assange,
fundador do Wikileaks.
Agora, a representação de protesto aporta no Brasil,
escondendo o rosto de muitos dos manifestantes que neste mês de junho iniciaram
protestos nas principais cidades, com a contestação focada em seu nascedouro no
aumento da tarifa do transporte coletivo.
Como estes protestos descambaram para a violência e o
vandalismo, provocados ou não pela repressão policial, a verdadeira motivação
se esvai no registro de paredes pichadas, vitrines quebradas, veículos
depredados e queimados e pessoas feridas e presas. A cena de pseudo Primavera
Brasileira, ou pré-Inverno Nacional se sobressai ao protesto justo.
Foram incorporadas à pauta o combate à PEC 37 que retira
poderes do Ministério Público e as críticas aos gastos com a Copa das
Confederações, como pano de fundo de uma insatisfação que tem outras causas
igualmente.
No rol da grita nacional, onde caras limpas ou mascaradas protestam
com justa razão e um pequeno número de baderneiros promove arruaças e
depredações, rechaçadas pela polícia, assoma a precariedade da contraprestação
do Estado pela elevada carga de tributos arrecadada, refletida na saúde,
educação, segurança, transporte público, infraestrutura, moradia e um
sem-número de outros bens e serviços a serem supridos ou subvencionados pelas esferas
de governo.
A mobilização e o protesto são indissociáveis dos regimes
democráticos. A inquietude é própria dos jovens. Mas a justiça de todas estas
reivindicações não pode ser maculada pela covardia do vandalismo e da violência
atrás da máscara. O patrimônio público e privado não pode ser alvo da ira de
quem pretende ser ouvido e atendido nos seus pleitos. Justíssimos, aliás!"(Vilson Romero)
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