A MP 540 E A PREVIDÊNCIA

"O governo editou, em 2 de agosto (DOU de 3 de agosto) a Medida Provisória nº. 540 na qual, entre outras medidas, materializa uma das históricas cobranças do empresariado – a redução, mesmo que temporariamente – até dezembro de 2012 -, de parte dos encargos previdenciários incidentes sobre a massa salarial decorrente do vinculo empregatício formalizado.
Ao desonerar a folha de pagamento das empresas que prestam serviços de tecnologia da informação e comunicação (software), bem como das indústrias moveleiras, de confecções (têxteis) e de artefatos de couro (calçadista), o Planalto visa “incrementar o registro dos empregos e fomentar as atividades destes setores”.
A recuperação da competitividade nos mercados interno e internacional e a tentativa de coibir a burla à relação formal de trabalho, com a pseudo-terceirização, são elementos propulsores destas medidas integrantes do anunciado pomposamente Plano Brasil Maior.
Já há estimativas de que a substituição da contribuição previdenciária patronal (20%) sobre a folha de salários, bem como a incidente sobre a remuneração de contribuintes individuais (prestadores de serviço, diretores não-empregados, etc) por uma arrecadação calculada sobre a receita bruta (2,5% para as empresas de software e 1,5%) gerará mais desequilíbrio no caixa do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A diferença entre a nova contribuição e a transformação em zero da atual alíquota previdenciária dos incisos I e III do artigo 22 da Lei no. 8.212, de 24 de julho de 1991 (Lei Orgânica da Seguridade Social) chega a R$ 1,6 bilhão por ano.
Há previsão legal de reposição ao INSS pelo Tesouro Nacional, segundo anunciam as autoridades, até porque a contribuição previdenciária é a única que tem gravame constitucional de ser destinada exclusivamente para ser utilizada no pagamento de benefícios mantidos pelo Regime Geral de Previdência Social.
Mas o pior é o fato denunciado pelas centrais sindicais. Há este beneplácito, mas não é exigida nenhuma contrapartida. O governo não exigiu manutenção ou aumento do número de emprego dos empresários beneficiados.
Sabe-se que os fatos geradores das contribuições tanto sobre a folha de pagamentos quanto sobre a receita bruta têm, na maior parte das vezes, curvas de evolução distintas. O exemplo mais flagrante ocorreu em plena crise de 2008/2009.
Enquanto a arrecadação das contribuições e demais tributos administrados pela Receita Federal do Brasil tiveram crescimento pífios ou reduções expressivas, no período a contribuição previdenciária cresceu bem acima dos índices inflacionários.
Por mais que o governo reitere que vai monitorar o que considerou como “projeto piloto” aplicado nesses quatro setores até o final de 2012, o resultado tende a comprimir os cofres previdenciários, elevando o seu já alardeado desequilíbrio.
Ao mesmo tempo, há também a possibilidade de outros setores serem incluídos na medida até 2012.
Apesar de setores beneficiados avaliarem como "um excelente começo" para melhorar a competitividade nacional e combater a desindustrialização e a guerra fiscal, outros segmentos da sociedade, como as centrais sindicais, desautorizam referendar pura e simplesmente o Plano Brasil Maior.
Principalmente pelo fato de os trabalhadores, principais afetados por eventuais insubsistências no sistema previdenciário, não terem sido ouvidos antes das propostas serem divulgadas.
Não obstante a constatação de um processo crescente de desindustrialização em determinados segmentos, o aumento da capacidade produtiva com redução dos ônus sobre a folha, deve vir acompanhado da restrição para os setores beneficiados realizarem demissões e, inequivocamente, sem que se transfiram para a população os eventuais ônus decorrentes das novas taxações criadas.
O debate sobre o assunto deve ocorrer no Congresso, permitindo o detalhamento das projeções sobre perdas de arrecadação, de um lado, e sobre prejuízos para a previdência e, por conseguinte, sobressaltos para aposentados, pensionistas e, sem sombra de dúvidas, para os atuais trabalhadores da iniciativa privada."
(Vilson Romero)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

IMPRENSA LIVRE SEMPRE!

DIA DO SERVIDOR SEM COMEMORAÇÕES

PORTO TRISTE É DE MENOS!