SEGURIDADE SOCIAL BILIONÁRIA
A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal
do Brasil (Anfip) e a sua Fundação de Estudos da Seguridade Social, como fazem
há anos, divulgaram recentemente o documento “Análise da Seguridade Social de 2011” , com um abalisado
estudo sobre as contas da Previdência Social e a execução do Orçamento da
Seguridade Social, disponível em http://www.anfip.org.br/publicacoes/livros/publicacoes_livrosindex.php?t=3.
Com este trabalho, fica reiterado, sobremaneira, que,
enquanto o governo federal se queixa de falta de dinheiro para programas
sociais e ameaça fixar idade mínima para as aposentadorias do setor privado ou
mexer profundamente no regime de pensões por morte, há dinheiro a rodo nas
contas do sistema de proteção social que dá cobertura às ações governamentais
nas áreas da Saúde, Assistência e Previdência Social.
O governo federal, no ano passado, arrecadou R$ 528,19
bilhões decorrentes das contribuições sociais. Aí estão incluídos os ingressos mais
expressivos de receita vindos da contribuição previdenciária (R$ 245,89
bilhões), da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins –
R$ 159,89 bilhões) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL – R$
57,84 bilhões).
A Seguridade ainda conta com as arrecadações de mais de R$
42 bilhões do Programa de Integração Social (PIS) e Programa de Formação do
Patrimônio do Servidor Público (Pasep), unificados desde 1976, e cujos recursos
subsidiam o seguro-desemprego e o abono salarial dos trabalhadores. Também se
contabiliza, entre outros ingressos de menor expressão, os R$ 3,40 bilhões
oriundos dos concursos de prognósticos (loterias federais oficiais).
Na outra ponta da balança orçamentária, estão as despesas ou
programas de transferência de renda que, segundo a Anfip, na depuração das
rubricas, nos revela que, em 2011, totalizaram R$ 451,00 bilhões. Esse montante
superou em 12,3% os valores de 2010 principalmente em razão da elevação dos
valores dos benefícios previdenciários e dos gastos na área da Saúde.
As aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS) foram reajustadas pelo INPC de 2010, e o valor mínimo teve aumento
real, acompanhando a elevação do salário mínimo. Na Saúde, os gastos
totalizaram R$ 72,33 bilhões, R$ 10,40 bilhões a mais que em 2010.
O maior desembolso do Orçamento da Seguridade Social foi de
R$ 281,44 bilhões com o as aposentadorias, pensões e auxílios rurais e urbanos
do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), administrado pelo INSS.
O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) também distribuiu
benefícios da ordem de R$ 34,17 bilhões, entre seguro desemprego e o abono
salarial - salário mínimo devido ao trabalhador que, no ano anterior, recebeu
menos de dois salários mínimos.
Há ainda, nesta contabilidade bilionária, o montante de R$
23,35 bilhões de benefícios de prestação continuada da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), aos idosos e às famílias com pessoas com deficiência
de baixa renda. Também conta a importância de R$ 1,76 bilhão relativa aos
benefícios da Renda Mensal Vitalícia (RMV) a idosos e deficientes. Já o
Bolsa-Família registra o maior aumento (24,3%) em repasses – passou para R$
16,8 bilhões em 2011, R$ 3,3 bilhão a mais do que em 2010.
Ao fim e ao cabo, o estudo revela que sobraram mais de R$ 77
bilhões na Seguridade Social em 2011. Se considerarmos os resultados positivos revelados
pela Anfip desde 2008, temos um superávit acumulado de mais de R$ 230 bilhões.
Aonde foi parar este dinheiro, que não para melhorar benefícios, para reduzir
os problemas do sistema caótico de saúde, para minimizar a desigualdade no
território nacional?
Pois uma parcela expressiva destas sobras ficaram retidas
nas burras federais, com a chancela do mecanismo chamado Desvinculação das
Receitas da União (DRU), aprovado pelos congressistas e dando carta branca ao
Palácio do Planalto para gastar a seu livre arbítrio 20% das contribuições
sociais, exceto a contribuição previdenciária. Com isto, foram retidos, só em
2011, R$ 52,64 bilhões. Este dinheiro e todos os demais excedentes servem para
garantir o denominado superávit primário e bancar as despesas e serviços da
dívida pública. Enquanto isto, a Seguridade, apesar de bilionária, padece de
soluções para as precariedades dos programas de seus três subsistemas – Saúde,
Previdência e Assistência Social. Que a população e o legislador tenham
consciência disto. Tem que mudar! (Vilson Romero)
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