A PRÓXIMA VÍTIMA
Santiago Ilídio Andrade, 49 anos, foi o primeiro
profissional da imprensa a perder a vida nas manifestações desde a metade do
ano passado, mas não foi a primeira vítima.
Antes dele, em 20 de junho de 2013, o estudante Marcos
Delefrate, de 18 anos, morreu após ser atingido por um carro que feriu outras
12 pessoas, no final de manifestação que reuniu cerca de 20 mil pessoas em
Ribeirão Preto (SP). No mesmo dia, a gari Cleonice de Moraes, de 51 anos, que
trabalhava na prefeitura de Belém (PA), varrendo ruas da área do mercado
Ver-o-Peso, foi atingida por gás lacrimogêneo lançada pela Polícia Militar,
passou mal e não resistiu. Valdinete Rodrigues Pereira, de 40 anos, e Maria
Aparecida, 62 anos, também morreram atropeladas durante um protesto na BR-251,
no distrito de Campos Lindos, em Cristalina (GO), na manhã de 24 de junho.
Douglas Henrique de Oliveira, de 21 anos, não sobreviveu ao cair do viaduto
José Alencar durante uma manifestação em Belo Horizonte
(MG), cinco dias após. Luiz Felipe de Almeida morreu no início de julho após
passar 19 dias hospitalizado em razão de queda no mesmo viaduto. Dias antes, o
marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, foi atropelado por um caminhão
em uma rua perto da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na altura de Guarujá (SP).
O motorista fugia dos atos de protesto que congestionavam a estrada. Em
Teresina (PI), um garoto de 14 anos, Paulo Patrick, não resistiu ao ser
atropelado por um táxi durante manifestação ocorrida em 26 de junho. Na capital
fluminense, no final do mês de junho passado, o ator Fernando Cândido também
faleceu em função de ter inalado gás lançado pelas forças policiais. Já neste
ano, no mesmo tumulto onde foi vitimado o cinegrafista da Band, o vendedor
ambulante Tasman Acioly, ao fugir da turba enlouquecida, foi atropelado por um
ônibus. Além destas perdas, contabiliza-se centenas de policiais e civis
feridos e agredidos nas inúmeras manifestações que descambaram para a violência.
Algumas outras ocorrências são igualmente lamentáveis, fruto da
irresponsabilidade e inconsequência.
O estudante Vitor Araújo, 19 anos, perdeu a visão do olho
direito durante um confronto no protesto do Dia da Independência em São Paulo (SP). O
fotógrafo Sergio Silva, da Futura Press, também ficou cego do olho esquerdo ao
ser atingido por uma bala de borracha nas manifestações de junho no centro da
capital paulista. Com a perda do cinegrafista da TV Band, Santiago Andrade,
primeira baixa fatal na imprensa brasileira, chega a quase 120 o número de
comunicadores atingidos, agredidos e atacados durante a cobertura dos protestos
iniciados no ano passado.
Já houve inúmeros anúncios de providências, reuniões,
propostas de legislação e tentativa de criminalizar os protestos. Até foi
criado, há um ano, o Grupo de Trabalho sobre Profissionais da Comunicação, do
Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado à Presidência da
República.
Enquanto as comissões se reúnem, os políticos debatem, o
governo discursa e permanece quase inerte, as vidas se perdem. Quem será a
próxima vítima? Se não for mais um de nós, pode ser, lamentavelmente, a
democracia.
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