PREVIDÊNCIA, A REFORMA DESIDRATADA
Segundo diagnosticam os profissionais que cultuam os deuses Asclépio
(grego) ou Esculápio (romano), a desidratação ocorre quando o corpo usa ou elimina
mais líquido do que o ingerido. Esse
quadro de perda de líquidos e sais minerais pode ser nefasto e perigoso para
idosos, crianças e pessoas com o sistema imunológico enfraquecido e, para os
quais a atenção deve ser redobrada.
Pois o termo “desidratação” tem sido utilizado por autoridades do Palácio
do Planalto e por grande parte da mídia para anunciar o que pretende o governo federal
em relação à reforma do sistema previdenciário brasileiro.
O governo, aliado aos segmentos empresariais, em especial os “abutres”
do sistema financeiro, que tem como principal produto lucrativo os planos de
previdência, está movendo mundos e fundos (por sinal, muitos fundos – em
especial, públicos!) para remontar a base de apoio visando aprovar mudanças no
seguro social.
Base esta, já que estamos falando em desidratação, “desarranjada” com
as sucessivas denúncias de lama dentro e no entorno dos Palácios da Corte
brasiliense e brasileira.
Embora haja uma sucessão de
balões de ensaio soltos na mídia e pela mídia, ora por autoridades do
Executivo, ora por mandaletes parlamentares, anunciam o foco na manutenção de três
pontos da inaprovável PEC 287 (a proposta de reforma original, aprovada em
Comissão Especial da Câmara e pronta para votação em plenário).
Seriam concentrados os esforços na fixação de uma idade mínima (65 anos
para homens e 62 anos para mulheres), com tempo de contribuição de 25 anos e
uma regra de transição.
Atualmente, o limite mínimo para se aposentar com o benefício integral
é de 30 anos de contribuição para mulheres, 35 para homens, sem idade mínima;
ou 60 anos para mulheres, 65 para homens, com tempo mínimo de contribuição de
15 anos.
A hipótese desta reforma “desidratada” tem mobilizado o grupo de apoio
ao governo no Congresso, buscando que o projeto simplificado seja aprovado, pelo
menos em dois turnos na Câmara até dezembro, ficando o Senado para o início do
próximo ano legislativo.
Parece que os reformistas palacianos aceitam deixar de fora o aumento
da idade para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para
idosos e mudanças na aposentadoria rural.
Porém, não pode ser descartada a edição de Medidas Provisórias (MPs)
para mudanças importantes mas que não estão na Constituição Federal, como o
endurecimento da aplicação do fator previdenciário e o fim da fórmula 85/95, o
aumento da alíquota de contribuição (A MP 805/17 já o fez para os servidores
públicos federais), a alteração do período de apuração do benefício (ao invés
dos 80% maiores salários, computar todas as remunerações).
Mas o que preocupa e atordoa o trabalhador da iniciativa privada e do
serviço público, além destas mudanças cruéis e draconianas é as autoridades e
arautos do apocalipse não sinalizarem com mudanças na gestão e na transparência
da Previdência, como as constatadas pela CPI do Senado que tratou do assunto.
No relatório da referida Comissão, aprovado por unanimidade, inclusive
com voto do líder do governo no Senado, há uma série de alternativas de
recuperação de recursos sagrados dos aposentados e pensionistas que, se tomadas
ao pé da letra, em muito contribuiriam para manter a previdência em equilíbrio.
Mas o governo e o Senhor Mercado querem somente abocanhar mais uma
fatia da previdência e cada vez mais transformá-la em produto lucrativo, ao
invés de mantê-la como o programa social fundamental para a cidadania. Tacanha
esta visão. (Vilson Romero)
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