O RALO DA CORRUPÇÃO
Não há dia em que não se noticie um novo escândalo onde
milhões de reais se esvaem dos cofres públicos.
Numa manchete, o Ministério Público Federal (MPF) conclui o
processo resultante da Operação Rodin, onde 32 pessoas são acusadas de
desviarem R$ 44 milhões de orçaos públicos do RS. Noutra, a atuação do Tribunal
de Contas da União (TCU) na fiscalização das áreas de mobilidade urbana,
estádios, aeroportos, portos e telecomunicações para a Copa do Mundo de 2014
gerou economia de R$ 600 milhões.
Em mais um escândalo, uma prefeita denuncia ao Ministério
Público Estadual o ex-prefeito de município do interior piauiense pelo desvio
de cerca de R$ 1,5 milhão do fundo municipal de previdência. Recentemente, um
rombo de 50 milhões apurado na Operação Miqueias, da Policia Federal, onde
facínoras utilizavam até prostitutas para convencer dirigentes municipais a
aplicar os recursos dos fundos de pensão em investimentos “furados”.
Já há estimativas de quanto custa a corrupção. A Fiesp
avalia que com os recursos desviados anualmente poderíamos ter mais 24 milhões
de crianças matriculadas no ensino fundamental, ou distribuir à população
carente cerca de 160 milhões de cestas básicas. Ou ainda construir 918 mil
casas populares do Programa Minha Casa Minha Vida ou 57 mil escolas de educação
básica. Segundo a entidade, exterminar a corrupção no país significaria reduzir
um desvio estimado entre 1,38% a 2,3% do PIB (de R$ 50,8 a R$ 84,5 bilhões) por
ano, montante referendado pelo comitê executivo do Capítulo Brasileiro da
Organização Mundial de Parlamentares contra a Corrupção (Gopac).
Por consequência, seguimos mal colocados no ranking mundial
da Percepção da Corrupção: 69º lugar entre 176 países pesquisados pela ONG
Transparência Internacional, atrás de países como Kuwait, Romênia e Arábia
Saudita ou dos vizinhos Chile e Uruguai.
Cabe saudar a manifestação do novo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, que defende o combate à corrupção como prioridade de
sua gestão, reforçando que esse tipo de ação tem que ocorrer de forma
capilarizada, rastreando desde desvios menores, como os ocorridos na contratação
de merenda escolar e na construção de ginásios e de estradas. A situação é tão
grave que somente em seu gabinete há 170 representações, 200 inquéritos
policiais e 2 mil processos.
Estas situações não são privilégio nosso. A ONG
Transparência Internacional alerta para a correlação entre a crise financeira e
a corrupção e menciona os problemáticos Grécia, Itália, Portugal e Espanha como
os que menos se esforçam para combater o problema.
Até nas terras santas! A polícia italiana prendeu dia destes
o monsenhor Nunzio Scarano, suspeito de participar do desvio de milhões de
euros do Banco Vaticano. O monsenhor estaria envolvido em um esquema que
tentava levar € 20 milhões de euros (US$ 26 milhões) da Suíça para a Itália de
avião.
O ralo por onde escoam estes recursos é multifacetado. Tudo
isto referenda os resultados do Global Corruption Barometer (Barômetro Global
de Corrupção) de 2013. Com base no que disseram mais de 114 mil entrevistados
de 107 países, aponta que a corrupção é generalizada, que as instituições
públicas encarregadas de proteger a população estão no topo do ranking de
suborno, que os governos não fazem o suficiente e que grupos poderosos estão no
comando. Mas, acima de tudo, que a população quer se envolver: 67% das pessoas
ouvidas acreditam que a sociedade pode fazer a diferença na luta contra a
corrupção. Façamos, pois, a nossa parte! (Vilson Romero)
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