PREVIDÊNCIA E CAPITALIZAÇÃO
Às vésperas de completar 96 anos de existência,
em 24 de janeiro, as ameaças de reforma na previdência social brasileira estão
fazendo seu idealizador, Eloy Chaves, falecido em São Paulo, em abril de 1964, se
remexer no túmulo.
Tendo como modelo o tsunami privatizante
do Chile nos anos 80, o novo governo anuncia transformar drasticamente o seguro
social brasileiro que abrange, nos setores público e privado, mais de 120 milhões
de cidadãos, entre contribuintes e beneficiários,
E a mudança se inspira, a exemplo do que
ocorreu em território chileno, no ideário de um dos maiores defensores do
liberalismo econômico no século passado, o economista americano Milton Friedman
(1912-2006), mentor dos Chicago Boys, e de quem o atual superministro da Economia
brasileiro parece ser um ferrenho discípulo.
Pelo modelo que está sendo gestado
segundo os balões de ensaio diários lançados atabalhoadamente na mídia, há três
possibilidades sobre a mesa dos novos inquilinos da Esplanada dos Ministérios e
do Palácio do Planalto.
Em todos os anúncios, fala-se em pauperizar
definitivamente a previdência pública transformando-a numa “esmola mínima nacional”,
onde todos os brasileiros, independentemente de contribuição ou vinculo empregatício,
a partir dos 65 anos fariam jus a benefício assistencial desindexado e inferior
ao já mínimo salário mínimo.
A partir desse valor, haveria uma
previdência no regime de repartição como hoje existente, mas achatando o teto
para algo em torno de três ou quatro salários mínimos.
Acima deste limite máximo do INSS, viria
o modelo que faz brilhar os olhos dos “abutres financeiros”: cada trabalhador do
setor público ou da iniciativa privada teria que fazer aplicações em contas individuais para garantir, décadas após,
alguma dignidade na aposentadoria, se for possível e se houver dinheiro ainda.
Esse é o modelo que foi à bancarrota no
Chile, pois passados trinta anos da sua instituição, a promessa de que os
trabalhadores que contribuíam compulsoriamente para as AFPs – instituições criadas
para guardar as aplicações dos chilenos - tivessem uma renda de cerca de 70% do
salário, tornou-se vã.
Há milhares de aposentados dormindo
embaixo de marquises e viadutos por toda a Santiago e dezenas de cidades do
país, e o número de suicídios se elevou drasticamente entre os idosos, segundo
noticiam, pelo sofrimento, penúria e vergonha de não poder manter a si e aos
seus.
As mobilizações populares já fizeram o
governo chileno reverter parcialmente a total privatização, mas segue a preocupação
sobre o futuro dos aposentados.
É isso que querem para o Brasil? É isso
que querem para nossos filhos e netos? Quem sobreviver, verá! (Vilson Romero)
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